sexta-feira, 30 de agosto de 2024

MORRO DA PRAINHA

 


Morro da Prainha - Ubatuba SP .Imagem acima de arquivo, não faz parte da matéria original abaixo compartilhada.


Morro da Prainha
 
 

Você pode imaginar alguma criança, algum adolescente que tivesse quase uma cidade inteira como quintal para brincar? Eu tive, os da minha geração tiveram. Nesse quintal, há uma área que me traz muitas recordações daqueles tempos, circunscrita pela Praia do Cruzeiro, a boca da barra do Rio Grande da cidade, o morro Curuçá ou Morro da Prainha (conhecida nos tempos atuais como Prainha do Matarazzo).

Esse morro era uma espécie de posto avançado na baía da cidade, de atalaia para o enfrentamento de quem ousasse, vindo pelo mar, atacar a então Villa de Ubatuba. No alto, em sua vertente, há uma valeta que a percorre no sentido da Praia do Perequê-Açú. Disseram-me tratar-se de uma trincheira. Aquela gruta que há defronte à Avenida Felix Guisard, dizem ter sido um túnel que sairia na Praia do Perequê-Açú.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A lenda da gruta do Curuçá

 


 
Arquivo JCM 

Mesmo que proibido, devido às crenças e superstições em torno daquele morro e que ali vivia o Boitatá1, o menino tocador de flauta e outros curumins, depois de atravessarem a perigosa foz de Yperoig2, chegaram à pequena e encantadora prainha do Curuçá3. Entre brincadeiras de praia e de mar, Jagoanharo4, o menino da flauta, observou um contínuo movimento de árvores e arbustos em certa parte da mata e que dali saia também um som suave. Curioso, convidou seus amigos para ver o que seria aquilo, mas com medo, ninguém o acompanhou.

Jagoanharo era destemido, entrou na mata e descobriu uma gruta, de onde vinha o vento e o som. Apenas com sua inseparável flauta, dirigiu-se ao interior da caverna guiado por uma fosca luz que vinha de dentro; andou mais de duzentos passos e descobriu que o clarão vinha de cima, por uma brecha larga pela qual se enxergava o topo do morro; o túnel continuava, agora estreito, reluzente e “calçado” com pedras preciosas. Não arriscou em prosseguir, pegou sua flauta e pôs-se a tocar; a acústica maravilhosa fez o som ecoar por todas as brechas do morro, até a aldeia distante ouviu a música do menino. Voltou à praia onde seus amigos já não mais estavam. Andando pela costeira voltou à aldeia, onde seu pai, o índio Coaquiira5, o esperava com um cipó de timbopeva nas mãos..., mas não contou a ninguém a sua descoberta.

Ao amanhecer de certo dia, tocando sua flauta na praia de Yperoig, o menino pela primeira vez viu a “serpente” de fogo que saiu voando do alto do Curuçá, sumindo no horizonte. Intrigado com tal visão lembrou-se das pequenas chamas que avistara no interior da caverna: - Talvez sejam aquelas pequenas luzes, que juntas, esvoaçaram pela abertura no alto do morro? Pensou o pequeno curumim.

Aproveitou que a aldeia ainda dormia e da pequena canoa despojada na praia, em sua curiosidade e coragem remou até a prainha e mais uma vez entrou na gruta. Daquele ponto onde avistava cintilações de chamas, seguiu engatinhando o estreito túnel, até chegar a um lugar mais confortável, na qual pode ficar de pé; ali descobriu uma carcaça, esqueleto gigante de um animal que nunca tinha visto (provavelmente um Gliptodonte6). Mesmo amedrontado prosseguiu e, a menos de cem passadas sentiu uma corrente de ar mais fresco, o que fez continuar e tão logo se deparar com a “saída” do túnel7, uma caverna mais ampla, que despojava a sua frente um exuberante manguezal. Percebeu então que o túnel atravessava todo o morro do Curuçá, pois dali conseguia avistar o majestoso Votuporanga8 (hoje chamado de Pico do Corcovado).

Diante de intensa mata e imenso manguezal, decidiu voltar; encheu o ajó9 da flauta com pedras preciosas e iniciou a volta...
Na aldeia todos se assustaram, viram e ouviram a fúria do Boitatá; a “serpente” de fogo, desta vez chegou a incendiar o topo do Curuçá e, do curumim Jagoanharo, nunca mais se teve notícias, só se ouvia o som de sua flauta.

Talvez, por ser “de cascalho”, o estrondo abalou as estruturas do morro e ocorreu um deslizamento interno, prendendo o menino lá dentro da caverna.

Bem mais tarde, com a chegada dos portugueses e com a presença dos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega na aldeia de Yperoig, os catequistas também observaram o Boitatá e constantemente o som de uma flauta que vinha do Curuçá; sabendo do fato ocorrido com o pequeno índio e aproveitando o momento festivo da “Paz de Iperoig”, cravaram no alto do morro do Curuçá, uma CRUZ, que teve duas finalidade: firmar o catolicismo na terra Tupinambá e acalmar a “alma da onça”.

A flauta silenciou.

*

Até então, Curuçá, pela característica geológica do local, significava lugar de abundante cascalho, seixo; após o som da flauta e do cruzeiro, Curuçá aderiu também o significado de: “lugar de muita música” e lugar da “Cruz Grande”. Ybyty Curuçá = Morro de cascado - Morro da música - Morro da cruz; hoje, Morro do Curuçá com a Gruta do Curuçá.


1 Boitatá: Lenda indígena: Serpente de fogo que mata quem destrói as florestas. Cientificamente conhecido como FOGO FÁTUO: Fenômeno ligado à decomposição dos corpos de seres vivos. Nesse processo, as bactérias que metabolizam a matéria orgânica produzem gases que entram em combustão espontânea em contato com o ar, explode e gera fogo esvoaçante. O fogo-fátuo chegou a ser descrito, ainda em 1560, pelo jesuíta português José de Anchieta: “Junto do mar e dos rios, não se vê outra coisa senão o boitatá, o facho cintilante de fogo que rapidamente acomete os índios e mata-os.”

2 Yperoig: Foz/Rio de Tubarões

3 Curuçá: Cascalho, seixo

4 Jagoanharo: Nome indígena: Aquele que tem a alma de Onça

5 Coaquira: Nome do índio chefe da aldeia Tupinamba de Yperoig (Ubatuba); mais tarde se transformou num Tamuya (Tamoio), quer dizer: o avô, o mais velho, o mais antigo e com isso, postou-se como um dos cinco guerreiros que formaram a “Confederação dos Tamoios”. Os outros quatro guerreiros eram: Cunhambebe, Pindobuçú, Araraí e Aimberê

6 Glyptodonte: Animal pré-histórico, ancestral comum dos atuais tatus, nativo da América do Sul; media cerca de 3 metros de comprimento e pesava cerca de 1,4 toneladas, equivalente em forma, tamanho e peso a um Volkswagen/Fusca

7 Saída do Túnel: Gruta, caverna localizada na Av. Félix Guyisard, após a ponte sobre o Rio Grande de Ubatuba

8 Votuporanga: Colina bonita

9 Ajó: Bolsa, recipiente


Texto publicado por Julinho Mendes  em 12 de Junho de 2017

via  https://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=58887

`Capitão Deolindo´ - o nosso ginásio

 

Falar do "Capitão Deolindo" é lembrar das namoradas, dos amigos que tenho até hoje, dos professores, dos funcionários, é lembrar dos bailinhos de formatura para arrecadar fundos, realizados nas casas dos próprios formandos. É lembrar dos professores que acabaram se tornando nossos amigos: César Aranha, Hércules Cembranelli, Jair Geraldo, José Wilson, Maurício Pisciotta, Joaquim Barbosa, Waldir Marques, Joaquim Lauro, Wilma Alves, Sílvia Ley, Day Ferreira, Fernando Almada, Fernando Carvalho dentre outros. É recordar-se do Grêmio Estudantil 28 de Abril que sempre esteve presente nas promoções desportivas e na vida social do município. É falar do Zezito, do Mané Hilário e da Zanel. É trazer à lembrança o melhor diretor que o ginásio teve: José Celestino Aranha.

Quantas gerações de ubatubanos se sentaram naqueles bancos escolares? Quantas histórias têm para nos contar aqueles que estudaram no Ginásio Estadual (hoje Colégio Estadual) "Capitão Deolindo de Oliveira Santos"? Terminei o ginásio (8ª série nos dias de hoje) em 1969, no prédio onde hoje está instalado o colégio Olga Gil. Era uma situação provisória. Aguardava-se o término e entrega do prédio que estava sendo construído pelo governo estadual. O mestre de obras na construção era o saudoso Antônio Canabrava.

Os terrenos onde hoje estão instalados os prédios do Colégio Capitão Deolindo, piscina, Tubão e Delegacia de Polícia foram desapropriados para servirem a estas instituições e, ao mesmo tempo, serviram ao arruamento dos loteamentos Umuarama e Jardim Nova Ubatuba (SILOP). É bom frisar que o perímetro urbano da cidade terminava na Rua Gastão Madeira. A partir daí, era só mato e trilhas. A Rua Conceição, por exemplo, terminava na casa do Quinito Vigneron. Havia uma cerca e, depois dela, um caminho que passava rente a um poço enorme, onde havia muitas rãs, e prosseguia, indo até a salga do Tanaka, lá na Aratoca. A Rua Dona Maria Alves terminava na Esquina das Máquinas, mais ou menos onde hoje está situada a SABESP. A partir daí transformava-se num caminho de chão batido, ancestral da futura SP-125, Rodovia Oswaldo Cruz.

A construção de um prédio próprio para o Capitão Deolindo, que até então funcionava no do Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva (e somente em horário noturno) era uma antiga reivindicação e uma luta que envolveu principalmente os integrantes da USU - Unidos a Serviço de Ubatuba. Em 1968, quatro representantes dessa entidade estiveram em São Paulo para tentar acelerar o processo de doação da área e início da construção do prédio. Quem melhor pode falar sobre esses acontecimentos é o amigo Celso Teixeira Leite que, tempos depois, viria ser prefeito de Ubatuba. Nesses tempos, a USU, que tinha a participação de muitos jovens, também se articulava para conseguir implantar a Escola de Comércio (a Tancredo Neves de nossos dias), o que viria ocorrer pouco tempo depois. Naqueles tempos, caro leitor, a militância não era por um mundo melhor, mas por uma Ubatuba melhor, que pudesse oferecer melhores condições de ensino a seus filhos.

A presença do Ginásio Estadual "Capitão Deolindo de Oliveira Santos" na vida de Ubatuba era intensa. De repente, tudo isso acabou. A impressão que se tem é que os jovens não estão interessados em questões coletivas, mas tão somente em seus interesses pessoais. São os novos tempos.


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.

TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE  VIA  UBAWEB  em 30 de Maio de 2012

FONTE :  https://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=39977

domingo, 25 de agosto de 2024

EM UBATUBA CAIAÇÃO SOBRE A ARTE.....

 



O meu amigo Zé Ronaldo, em seu blog “Coisas de caiçara”, publicou a crônica Educar é... Vale a pena ler.

Eu me deparei com as imagens acima. Situação localizada na av. 9 de Julho, frente à praia de Iperoig, onde restaurantes diversos ocupam o passeio público com mesas para atendimento às suas freguesias. Nessa avenida, os postes da rede elétrica, há anos atrás, foram decorados, através de um projeto, que eu não me recordo a autoria, mas que eu achei muito interessante, bonito, importante no ponto de vista turístico e educacional, enfim, uma obra de arte, digna de apreciação, valorização, educação e cultura. Foram feitas por crianças! Crianças aprendendo, desenvolvendo e tendo gosto pela arte; no caso, a arte do mosaico.

Educar é..., não somente ir à escola, a escola dentre as matérias usuais, tem que promover conhecimentos diversos, e muito mais ainda promover, divulgar e valorizar a cultura de onde o aluno vive. Fazer o aluno tomar gosto pela pintura, música, esporte, leitura, meio ambiente... tudo isso é educar; aí teremos um cidadão consciente, um cidadão que dará valor a tudo quanto é arte, um cidadão que preservará suas raízes culturais, um cidadão que terá amor pelo lugar e ambiente onde mora, um cidadão que saberá reconhecer uma obra de arte.

A nossa educação é falha! A educação brasileira, segundo estatísticas divulgadas nos meios de comunicação, encontra-se entre os piores, no ranking global.

Um determinado chefe de setor administrativo municipal manda seu pessoal pintar os postes de branco. Os subordinados pegam o pincel e cumprem a ordem: pintam o poste de branco, mas não se atinam que no poste tem uma obra de arte que uma criança fez, uma obra de arte diferenciada, de muita importância para uma cidade turística. O que faltou para esse chefe e seus subordinados não preservarem a obra de arte existente nos postes? Não faltou nada! Apenas o chefe, seus subordinados e todos nós brasileiros, estamos dentro da estatística de que o Brasil encontra-se entre os piores lugares no ranking de educação mundial, ou seja, não adianta o governo somente oferecer prédios escolares, o governo tem que oferecer, acima de tudo, educação de qualidade, dar condições, preparar e valorizar muito bem seus professores, aí a nossa situação no ranking mundial será revertida e, com certeza, num futuro, os “pintadores” de postes não irão meter uma brocha de caiação por cima de uma obra de arte, porque, todo e qualquer cidadão terá uma consciência mais apurada, saberá reconhecer e dar importância a uma obra de arte seja lá qual for.

Jogar lixo nos rios e córregos, andar de bicicleta fora da ciclovia, não respeitar os sinais de trânsito, pichar monumentos, depredar a natureza... tudo isso realmente é coisas de pessoas sem a apurada consciência e que vivem num país que encontra-se em último lugar no ranking mundial de educação, isso não é culpa do cidadão e sim dos líderes da nação que não aplicam seriamente em educação de qualidade.

A eleição está aí! Sempre a conversa dos candidatos é a de dar qualidade à nossa educação, mas não saímos do lugar, então tem algo de errado com esses politicalhos. O jeito é fazermos uma faxina e conscientizar os novos que educação é coisa séria.



JULINHO MENDES  - TEXTO  Compartilhado no ano de 2014

via   site   https://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=49643

Analogia Luso-Tupinambá

 



Pelo tamanho da desproporção, a verdade é que, três caravelinhas de “merda”, com meia dúzia de homens, dominaram uma nação com oito milhões de pessoas; se falarem que é menos, a desproporção não se altera.

Caravelinhas de “merda”, uma ova, caravelas da mais alta e qualificada engenharia naval projetadas e construídas na época, embarcações que atravessaram o Atlântico sem nenhuma avaria.

Aqui chegaram e cresceram os olhos; certamente que a princípio com um certo medo daquele povo praticamente desnudo, de caras pintadas e pintos de fora, mas como as aparências enganam, viram que era um povo bom, receptivo e que não mostrava qualquer tipo de agressividade.

Como político em campanha, foram labiando, mostrando seus “santinhos”, dando-lhes quinquilharias e em meio a isso, já com um monóculo voltado às riquezas do lugar, e outro nos fartos seios que abundavam, aqueles brancos foram sacando a facilidade de domínio.

O ancião vovô Kayapika já tinha falado:

- Se for homem branco, peguem seus arcos e matem todos!

Aí realmente, aquelas três “caravelinhas” tinham virado lenha no assado dos Cabral’s, dos Mendes, dos Oliveiras, dos Silvas, dos Pereiras... Que bom seria! Não estava hoje aqui, eu, escrevendo essas bobagens. Não tinha gente festejando o sete de setembro e muito menos protestando o quatorze. Infinidade de coisas não tinham e não estariam acontecendo; era só mata, pássaros, animais, mar sem poluição, tartaruga sem sacolinha no bucho, os rios cheios de peixes, e toda aquela população curtindo a natureza e vivendo em paz.

Fico pensando: será que, se os portugueses não tivessem aparecido por aqui, ou se estivessem mortos, como queria vovô Kayapika, seria eu um Tupinambá, um Guarani, um Yanomami? Ou mesmo que seja, um Julinho Mendes português vivendo lá em Lisboa? Não sei! O que sei é que sou um brasileiro, mistura dessas raças e, nesse meu paradoxo pensamento, devo apenas contemplar o 14 de setembro - a Paz de Iperoig? Nessa minha contemplação, vejo agora que aquelas três caravelinhas de “merda”, navegaram país adentro e apoitaram no Planalto Central. Ali sim, é só merda! Mas que, da mesma forma, até mais poderosamente e sem armas (diferentes dos navegadores portugueses), eles dominam uma nação de 215 milhões de habitantes. Que povo fraco é esse? 215 milhões de pessoas sendo manipuladas e aceitando quinquilharias de meia dúzia de larápios. Essa é a sina desse país! Até quando?

Fiquei pensando ainda, naquele saco plástico preto, que em protesto, colocaram na estátua de Anchieta e de Hans Staden, lá no monumento à “Paz de Iperoig”, na orla da praia; me deu uma ideia muito boa: vou até Brasília ensacar os três podres poderes, e saco não vai faltar para os “poderes” estaduais e municipais também.

- Tenho esse poder?

- Tenho merda nenhuma!

O absurdo da “coisarada” toda, é que não estamos atinando para o já ocorrido massacre contra os nativos dessa terra, os atuais Tupinambá de cocares feitos com pluma de papagaios vivem em combate com os Guaianases de cocares feitos com plumas de tié-sangue, esses em apoio às já aportadas naus do império vermelho chinês, que aqui deixam bugigangas malacabadas de R$ 1,99 e, enquanto brigamos em vão, estão levam nosso pau pecuário, nosso pau agro e se duvidar, logo, logo estarão no domínio total, que já se vê fumaça nas vizinhanças desse país; e restará a nós Tupinambestas, arranjar uma floresta na Lua, ou em Marte, para se refugiar.

Bom, mas volto ao “nosso” 14 de setembro, e o que posso fazer nesse dia, é me ensacar com saco preto, com meio saco na verdade, pois sou meio europeu, meio índio.

A “Paz de Iperoig” e o monumento que aí está, não é pra ser ensacado, não é pra ser pichado, não é pra ser quebrado, ao contrário disso, é pra ser cuidado, limpo, iluminado e muito bem preservado, para que não esqueçamos do fatídico passado e atinarmos para o futuro.


JULINHO  MENDES  - Texto de  2022

https://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=69253




segunda-feira, 19 de agosto de 2024

MEU PAI....

 

Meu pai foi um homem do silêncio ,diferente de minha mãe foi um homem de poucas palavras. Gostava de falar com as mãos....plantando nossa comida ,tirando nosso leite ,cuidando da terra Emaús tarde cultivando flores; até hoje tenho a forte lembrança dele regando brilhantina e margaridas amarelas no silêncio do entardecer...
Filha temporã , ganhei colo até mais tarde e a segurança de sua mão conduzindo a minha qdo criança e até depois de adulta.Papai era um homem simples que veio do campo para o litoral e viveu o restante de sua vida encantado com o mar e com as flores.
Lá vão quarenta anos que se foi ,mas deixou uma saudade imensa que o tempo não apaga...tantas lembranças, tantos natais e qdo queria contava a nós crianças uma quantidade enorme de histórias, de encantados , de Santos e milagres e de muitas mas muitas assombrações...e ainda agora sinto saudades de estar só seu lado ao pé do fogo ouvindo suas lembranças ou só oratório aprendendo a rezar...
Sinto falta da sua mão,da sua voz e da sua presença , mas também sei que de onde ele está, com certeza continua cuidando de suas flores e abençoando a mim que aqui ainda estou..
Saudades muitas pai e só peço que dê onde vc estiver me dê todos os dias a sua benção.
Bença pai ,feliz dia pra vc..!!!

Texto de Ana Maria Fernandes
via facebook

sábado, 17 de agosto de 2024

SOU CAIÇARA DE UBATUBA

                                                

Sou Caiçara de Ubatuba.
Ando impaciente, mas sou resiliente.
Tenho pavor de quem desrespeita minha gente.
Nossa cultura, nossa história e nossa memória.
Nosso meio ambiente que nós Caiçaras preservamos há séculos.
Da natureza, só tirávamos o necessário. Apenas oque precisávamos.
Tenho imensa certeza de ainda exite em nossa Ubatuba muita gente que pensa igual eu.
Oque vem ocorrendo. com nossa Ubatuba há décadas não é desenvovimento.
É degradação, poluição e destruição.
É bem isso.


Charles Medeiros via facebook

NÃO ESQUEÇAMOS . . .

 


Certo dia, o patrono do Museu Caiçara, Luiz Ernesto Kawall, bateu em minha casa trazendo um cartão nas mãos dizendo que queria conversar sobre uma ideia que teve, de um projeto. O tal cartão era uma imagem fotográfica emprestada do arquivista fotográfico Edson Silva, que tinha a imagem de um pescador caiçara segurando seu remo. A imagem era do caiçara José Vieira Mendes, o popular “Zé Capão”.

Luiz me falou do projeto: “Fazer um monumento gigante em homenagem ao Caiçara”; no momento duvidei, mas não achei impossível. Saímos de casa e fomos expor a ideia ao amigo João Teixeira Leite, nós três representantes do Museu Caiçara, que no ato fomos conversar com o Ney Martins, assessor cultural da Fundart, esse, por sua vez, levou-nos à presença da presidente da Fundação, a srª Sílvia Issa, que nos levou ao prefeito Paulo Ramos para conversarmos sobre o projeto. Depois, com a aprovação do Prefeito Paulo, formamos ali uma comissão e levamos o projeto para apreciação e aprovação do gestor do DNER, aqui na nossa região, o sr. Barouch, que em pouquíssimo tempo deu como aprovado a nossa intenção. Em pouco tempo também a prefeitura, através da Fundart contatou e contratou escultor para o início da obra do monumento. O escultor foi o mesmo que construiu o monumento do Bandeirante no trevo de entrada de Taubaté, o sr. Demétrio e seu ajudante, a qual, peço desculpas, não me lembro o nome. Antes do início, até para nossa apreciação de como ficaria a obra, Demétrio nos trouxe, para apreciação e ofertou ao prefeito uma maquete em miniatura da estátua. Magnifico! Sabíamos que, como sempre, a coisa seria questionada e ou polemizada de alguma forma por parte de populares, principalmente sobre a posição que deveria ficar a estátua, até mesmo entre nós da comissão tivemos esse questionamento de como posicioná-la: deixar a estátua de frente para a praia de Iperoig? Falariam que o caiçara estava dando as costa para o turista. Se colocasse a estátua de frente para quem vem de Taubaté, falariam que o caiçara estava dando as costas para seu mar e seu povo que vive do mar... Resolvemos deixar o monumento de frente pro mar da Praia Grande e Itaguá; dando o lado direito pro turista que vem de Taubaté, o lado esquerdo pro mar das praias do lado norte, e as costas ficou pro lado do morro da Ressaca. Resolvido a questão, mas mesmo assim teve língua a criticar e retrucamos explicando ainda que o Trevo é redondo, circular e daria para apreciar o monumento de todos os lados. Um fato que poucos sabem é sobre o Remo. Eu estava diariamente de olho na obra, mas justamente na feitura do remo monumental eu viajei e fique fora da Ubatuba durante uma semana, até por precaução de se fazer o remo no formato como é o nosso remo de canoa, deixei com o artista um dos meus remos, mas quando voltei o tal remo do caiçarão estava parecendo uma “colher de pau”: reto, sem ponta e sem quilha. Questionei sobre isso e sobre o paradeiro do remo que eu tinha deixado como amostra. O remo foi roubado e nunca mais vi. Com os andaimes ainda no local deu para remediar aquela “colher de pau” e melhorar a aparência do remo conforme se vê hoje, e a obra foi inaugurada no dia 28 de outubro de 2003, com a presença de muita gente e dos personagens da imagem acima, a qual eu cito, da esquerda pra direita: João Teixeira Leite, Barouch, Ney Martins, Moralino (vice-prefeito), Luiz Ernesto Kawall, Paulo Ramos (prefeito), sentado o centenário Mané Hilario, sua irmã Catarina ao lado, e nos fundos eu e Mané Hilário filho. Um momento histórico e de conquista para o povo Caiçara, com placa dizendo: HOMENAGEM AO CAIÇARA - Incentivo Museu Caiçara.

Realmente a ideia e o incentivo partiu do Museu Caiçara que muito fez pela cultura caiçara. A ideia foi concretizada pelos esforços de Ney Martins, Sílvia Issa e pela sensibilidade de Paulo Ramos. Está lá o Caiçarão “Zé Capão”, hoje a completar seus dezenove anos, expandindo-se em pinturas plásticas, em miniesculturas, em troféus, motivos fotográficos, enfim, passou a ser um dos símbolos da cidade e do povo caiçara. Merece uma festa!



Texto de Julinho Mendes   de 19 de Setembro de  2022

FONTE :  https://ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=71155

A educação e a mendicância

 


Me considero um brincante, amante da arte, da cultura e principalmente do nosso Folclore; digo que não é de agora e nem de ontem e sim desde criança que vi de perto e, de forma espontânea, ingênua, alegre e contagiante, a Dança do Boi, a Dança da Fita, a Congada, Folia de Reis, Folia do Divino, os carnavais com blocos e mascarados acompanhados pelos bonecos Maria Angú e João Paulinho... Com João Teixeira Leite aprendi a pintura primitiva e a construção de bonecos para Malhação do Judas; apreciei com João Albado e Emílio Graciliano a construção de boi bumbá, com Ney Martins conheci o Samba de Enredo e a batucada de uma escola de samba e todo seu entusiasmo pelo folclore e pela cultura caiçara, enfim, hoje faço das minhas... Hoje, não substituindo Ney Martins, digo que sou referência, assim como são outros amigos atuantes como Mario Gato, Ostinho Garcês, Elvio Damasio, Bado Todão, os descendentes filhos e netos do saudoso Dito Fernandes do Puruba, pessoal do Prumirim e muitos outros que, de uma forma ou outra, prestam seus trabalhos em prol da manutenção dessa nossa cultura.

Chega agora o mês de Agosto, mês do folclore, onde, nós atuantes, conhecedores dessas manifestações, somos convidados a fazer alguma ação nas escolas do município e isso também não é de agora, sempre tem um aventurado professor a nos convidar, a fazer uma palestra ou uma apresentação desse nosso folclore em suas escolas. Muito bem! Nunca nos negamos a ir, sabemos dessas nossas responsabilidades em divulgar, resgatar, manter e até promover a continuidade dessa nossa cultura. Isso acontece de forma aleatória, voluntária, sem projeção de efetivação concreta de, por exemplo, isso estar incluído no currículo escolar; é a professorada amiga ou conhecida, que até por iniciativa própria, com consciência de levar a nossa cultura à classe estudantil, que nos convida para uma apresentação em suas escolas.

Todos os anos, no final das férias de julho, por várias administrações que passaram e a atuante, é organizado e realizado pela Secretaria de Educação do município, a tal “Semana da Educação”, com palestrantes, ganhando bem, vindo de fora, discursos, debates, slides, panfletos, papéis, mídia, enfim. Eu posso estar enganado, mas nunca soube que os professores, que nos pedem para irmos nas escolas mostrar nossa cultura, levaram a essa Semana da Educação, um comentário sequer de que, nós da cultura popular caiçara, merecemos ser valorizados monetariamente para custeio de gastos e tempo com tal presença na escola; eu nunca ouvi falar que dessa custosa Semana da Educação saiu um projeto para fomentar nas escolas a cultura caiçara, ou mesmo um projeto para incluir no currículo escolar a nossa cultura. Nem mesmo ouvi sair dessa tal Semana da Educação, organização para visitar e prestigiar o Mês da Cultura Popular no Projeto Tamar. Eu, Julinho Mendes e meu amigo Roger, criamos o Quintal Caiçara, onde fazemos o Papo Caiçara, que até em grupos menores de alunos podemos receber mostrar um pouquinho da nossa Cultura. Mas... nada de apoio e incentivo por parte da tal Educação para ajudar alavancar esse nosso, já iniciado projeto! Tá osso! E chega, principalmente agora, mês do folclore, vem os convites para, gratuitamente, falarmos sobre nossa cultura nas escolas, seja lá contando histórias, cantando, dançando, teatrando... Tá! Tudo bem! Vamos! Mas venham cá meus amigos professores, senhores diretores, senhores adjuntos da Educação, secretário da Educação, senhores vereadores, senhora prefeita, isso não está certo! O certo é vocês terem a consciência do valor de nossa cultura, executar e por em prática projetos pra mostrar a nossa história, nossa musicalidade e dança, nosso rico folclore; implementar a cultura caiçara no currículo escolar, enfim, isso é o certo. Mas cadê? É só blá, blá, blá, é muita reunião pra pouca ou nenhuma ação, foram muitas “semanas da educação” PARA NÃO SE ACABAR com a MENDICÂNCIA de querer de graça a presença dos conhecedores e artistas da cultura caiçara a se apresentarem nas escolas. É isso, e é feio! Com razão ou sem razão essa, que não é de agora, é a minha expressão! Querem que eu vá às escolas, eu vou. Vou levar meu balaio de causos, vou levar rabeca, machete, violão pra tocar e cantar o fandango caiçara, vou ensinar a dança da Fita, a Congada, vou ensinar os passos para se fazer uma Folia de Reis, vou “folclorear” com meu Boi de Conchas, vou com meu Dragão da Sununga, vou ensinar a pintura primitiva, vou fazer uma canoa, um remo, um balaio... tudo isso vou fazer, mas... sem mendicância!

TEXTO DE JULINHO MENDES - Via  

https://ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=70977


"Renovos tempos O nosso boi renasce do mar" - Ano 2020

A Comunidade Reinante Voga dos Mares de Iperoig tem o orgulho de apresentar o 2º Ato da Manifestação do Boi de Conchas - 2020, com o filme: “Renovos tempos - O nosso boi renasce do mar!” Julinho Mendes

Orgulho de ser caiçara....

 

-Vinde onde? Era o jeito que meu avô me perguntava querendo saber de onde eu acabara de chegar.
Hoje estava pensando sobre minha origem, se descendo de judeus, Árabes, negros, índios ou europeus, até que lembrei de meu avô me perguntando. - Vinde onde meu filho?
A resposta sempre esteve tão óbvia...
Venho de um lugar de gente humilde e trabalhadora, de gente que "punhava" o pé no chão, que plantava e colhia, que tratava das suas crias, que do mar tirava seus cantos e contos, contos de réis também.
Venho da pesca, das malhas de rede, da comida farta na mesa, do peixe.
Vinde onde?
Venho do lugar onde se torra a farinha no tacho, do engenho de cana, do café com beraba adoçado com melado.
Venho das folias de Reis, do Divino, de São Pedro, do tamanco e do boi.
Venho das bandas do cruzeiro, da terra do xaréu, da tainha, do CAIÇARA.
Hoje eu sei, é de lá que eu venho, é quem eu sou.
Dedico este texto ao meu falecido pai Isaias que completaria 79 anos hoje.

In memorian de Isaias Ilario 100% caiçara...

Texto de seu filho Eduardo Ilário
via facebook

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

HOMENAGEM AO AMIGO ADRIANO ART, UMA GRANDE ARTISTA CAIÇARA

 


Na noite de ontem tive a felicidade de ver o amigo e grande artista Caiçara Adriano Art receber uma Menção Honrosa por sua arte reflexiva na V Mostra Coletiva dos Artistas de Ubatuba.
É importante conhecer nossa cultura e história.
Nossas tradições e memórias que remontam desde de 1500 com a Confederação dos Tamoio na luta pela defesa do território.
Parabéns a ti meu querido amigo.
O maior dos premios é a dignidade e a liberdade de criação, que permite ao artista o verdadeiro reconhecimento de seu sagrado dom.
Abaixo uma singela homenagem que fiz ao grande Chefe Tupinambá, cuja inspiração advém de nosso tão gracioso convívio na Ilha Anchieta no período em que tu fizesse a magistral obra em homenagem a Cunhambebe.
Gratidão.
Tapira.
A Ilha Sagrada de Cunhambebe.
Sob o brilho da Mãe Lua
A canoa singra mar.
Na proa da embarcação
Cunhambebe a observar.
O destino é a Ilha
Lugar sagrado no mar
No ritual da Lua Cheia
Bons espíritos encontrar.
Cunhambebe é guerreiro
Sabe o valor de lutar .
No solo sagrado da Ilha
Eles irão descansar.
A Lua Cheia encanta
O Chefe Tupinambá.
Nas areias da restinga
O ritual se iniciará.
O Pajé clama aos espíritos
Cunhambebe à observar.
Um silêncio sepulcral
Se faz naquele local.
Devidamente banhados
Os guerreiros que tombaram
Lado a lado são postados
No solo sagrado da Ilha
Respeitosamente sepultados.
O silêncio é rompido
O som na mata é ecoando.
Até ao amanhecer
Seu povo será celebrado.
Deus Sol faz nascer o dia
Cunhambebe se pronuncia.
Não deixo pra ti Ubatuba
Nenhum tipo de maldição
Mas sim exemplos de luta
Para futura geração.
A defesa do território
Agora é vossa obrigação .
Nem que seja necessário
Nova Confederação.
Pediu a bênção aos guerreiros
Que defendem a tradição.
Por manterem ainda viva
A cultura da nação.
Séculos se passaram
Desse ato consumado .
Hoje na Ilha Anchieta
Cunhambebe é lembrado.
Uma singela homenagem a Cunhambebe grande Chefe Tupinambá e ao magistral artista Caiçara Ubatubense Adriano Art, frente ao conceitual mural desenvolvido na Ilha Anchieta em Ubatuba SP Brasil.

Charles Medeiros
via facebook

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

TUDO COMEÇOU COM LUÍS ERNESTO E PRAXEDES

 



    “Numa casa, ali no acesso à praia do Tenório, Luís Ernesto  e compadre Praxedes acharam por bem montar um museu caiçara”. Foi assim que o João de Souza me contou. Também acrescentou isto: “Depois, o compadre Praxedes andava por tudo quanto é canto catando coisas para expor no museu do bairro. Diz que foi até a Ponta Grossa, lá pelo cisqueiro do Paru”.

                Fico contente em saber que, mesmo timidamente, um voluntariado persevera. Dessa forma nós trabalhamos, sob a batuta do Júlio,  vários finais de semana na apresentação atual do nosso museu. Também quero expressar a minha gratidão para com a dona Zelma. Dou a conhecer que esta filha do saudoso Pascoal se aproximou da nossa cultura a partir dos caiçaras do Perequê-mirim. Muito nos orgulha essa combatente mulher! No entanto, conforme disse o Júlio, é preciso que o poder público se sensibilize e abrace o museu como atrativo cultural/educativo e capaz de gerar rendas para o município.
                A seguir, do ano de 1986, este verso registrou o Domingos após um encontro no primeiro museu:
                As casas de antigamente
                falem um pouquinho
                das pessoas e das vidas
                que por ali passaram.
                Um pouquinho de cada coisa;
                Da imensa vida dos tempos passados.

SEU MANOEL APOLINÁRIO

 

Quando criança, nas ocasiões em que fui à cidade com o  vovô  Zé Armiro, eu ficava muito feliz. Além de tantas novidades, eu também ganhava guloseimas (que não imaginava vivendo na praia da Fortaleza, onde só tinha as vendas do Cáindo e do Jorge, além do tio Maneco Mesquita); via pessoas diferentes, casas com vidraças e bastante carros. Quase sempre a gente passava numa loja de tecidos. “A sua avó encomendou um corte de fazenda azul, de preferência tergal que não precisa passar e seca mais depressa. Vamos procurar na Casa Anchieta, depois na Macedônia ou na Dina. Haveremos de encontrar, em último caso, na alfaiataria do Isaías Mendes, ali perto do Bananinha”.     

    Eu sempre gostei de prestar atenção nas pessoas. Que paraíso são as cidades para isso! Na Ubatuba daquele tempo, por volta de 1970, vivia uma dessas pessoas singulares, amigo do vovô desde os tempos em que viveu em Santos. Era o Seo Mané Apolinário. Eles, nas primeiras décadas do século passado, ainda adolescentes, trabalharam juntos nos bananais daquela região, mais precisamente na localidade denominada de Itapema (hoje cidade de Vicente de Carvalho), na famosa Baixada Santista. Sim, a minha gente também precisou migrar em busca de melhores condições de vida! Nossos parentes viveram em outras terras “comendo o pão que o diabo amassou”, como dizem por aí.

   O Seo Mané sempre me chamou a atenção porque ele usava uma espécie de farda, com quepe e tudo. Quem o visse de longe podia confundir com um policial. Até apito ele trazia ao pescoço. Vovô dizia que ele andava assim porque era funcionário da prefeitura, trabalhava de vigia noturno. Naquele tempo eu não entendia bem porque precisava de gente para olhar, proteger as coisas nas noites, quando o certo era estar todos dormindo. “Mas ele é da polícia, vovô?”. “Não. Ele é guarda noturno. Só que gosta tanto da farda que não larga dela. Desde que a gente trabalhava juntos, naquele tempo lá em Santos, ele sonhava em andar fardado. Creio que, vendo tantos soldados se tecendo por lá, ele se encantou pelas vestimentas, quis ser parecido com os militares. Deu sorte. Depois de voltar para cá arranjou esse emprego de vigia noturno que, pelo visto, parece até precisar usar farda. Aí, então, juntou a fome com a vontade de comer. Veja como ele tá feliz. Agora só anda assim, fardado o tempo todo”.

    Passou o tempo, fui morar mais perto da cidade. As derradeiras imagens que eu guardo do Seo Mané Apolinário continuam com ele fardado, mas em cores desbotadas, costuras feitas à mão em algumas partes e quepe em ruínas, mas se mostrando orgulhoso como “militar”. Engraçado, né?




FONTE   :  BLOG  COISADECAICARA

JOSE  RONALDO    

COMUNIDADE CAIÇARA DO SERTÃO DO UBATUMIRIM

 



No mês de Maio iniciamos a peregrinação da bandeira pelo bairro do Sertão do Ubatumirim. No feriado do dia do trabalhador e da trabalhadora andamos por essa comunidade que preserva os costumes antigos do povo caiçara e possui bons fazedores de canoa.
“Ramos (2017) afirma que há um alinhamento do período da Folia do Divino com os ciclos de fertilidade da natureza, e no território caiçara ela coincide com a “safra” da tainha, período em que circulam pelos mares e baías dessa região geográfica e cultural específica.
Destacamos o quanto a Folia do Divino se entrelaça com outras expressões da cultura caiçara, além de ocorrer no mesmo período em que se pratica a pesca artesanal tradicional da tainha através dos lanços e cercos fixos, a maior parte dos mestres e tocadores são também mestres fandangueiros. Ela também tem relação direta com a canoa caiçara, pois “no tempo de primeiro”, todo o deslocamento das Bandeiras e dos foliões era feito através de canoas a remo.”
Tivemos a ilustre participação da Paulinha, mestra do São Gonçalo e assim visitamos amigas, primos, irmãos e afilhados onde fomos bem recebidos com fartura de alimentos e de sorrisos!
Além do incentivo da Fundart, que sempre apoia as bandeira. Este ano a Folia Caiçara do Divino Espirito Santo Ubatuba conta com o projeto “Memória Caiçara” que tem recursos do Edital 36/2023 PROAC - Apoio a Cidadania Cultural, Produção e Realização de Projeto Cultural, Cultura Popular, Caiçara, Indígena, Cigana e Quilombola do Estado de São Paulo.

Fonte: Dossiê entregue para o Iphan sobre as Folias Caiçaras em 2019.

Da pagina memória Caiçara - Folia do Divino Espirito Santos de Ubatuba
via facebook

O grande jornalista Luiz Ernesto Kawall fez sua despedida terrena no dia de hoje.

 


Nesse momento já se encontra a prosear com o amigo João de Souza no alto do céu.
Kawall deixa um enorme legado em nossa Ubatuba.
Que certamente transpassou as divisas do Camburi e Tabatinga.
Protetor, divulgador e incentivador da cultura do povo Caiçara, criou mais que o grandioso Museu Caiçara ao lado de Seo Praxedes.
Kawall despertou e recuperou o espírito tradicionalista de nossos canoeiros, criando nossa hoje famosa Corrida de Canoas Caiçaras de Ubatuba. A canoa é uma tradição desde os Tupinambás.
Kawall não nasceu em Ubatuba, mas amava essa cidade bem mais que muitos que aqui nasceram.
Deixa um legado para as futuras gerações, deixa saudades para os seus admiradores e uma lição aos representantes da cultura de nossa cidade.
Pra fazer cultura e necessário conhecer a história e amar as pessoas.
Pêsames aos familiares.

Charles Medeiros via facebook.