quarta-feira, 23 de julho de 2025

Bacupari: Fruto Sagrado da Mata Atlântica e o Caminho dos Antigos



O bacupari (Garcinia gardneriana), árvore da família Clusiaceae, é um verdadeiro tesouro da Mata Atlântica. Com seu porte modesto e copa densa, produz um fruto amarelo-dourado, de polpa macia e sabor agridoce, muito apreciado por quem o conhece. Nativa do Brasil, mas também presente na Bolívia e no Peru, essa espécie mantém populações estáveis e não enfrenta risco iminente de extinção — um alento em meio à crise ecológica que atinge tantos outros representantes da floresta.


Mas o valor do bacupari vai além do ecológico e do nutritivo. Há quem diga que ele guarda uma conexão ancestral com os povos que, muito antes da chegada dos colonizadores, desbravavam a imensidão da floresta por caminhos secretos e sagrados — entre eles, o lendário Caminho do Peabiru.
O Peabiru foi uma rede de trilhas indígenas que cruzava o continente sul-americano de leste a oeste, ligando o Oceano Atlântico ao Pacífico, e servia como rota de comércio, peregrinação e intercâmbio cultural. Era trilhado por diversos povos, sobretudo os guaranis, conhecidos por suas jornadas espirituais e busca pela “Terra sem Mal”. Ao longo dessas rotas, certas plantas ganhavam papel central — seja como alimento energético, seja como elemento ritualístico e curativo.
Nesse contexto, o bacupari pode ter sido uma dessas plantas-chave. Seu fruto saboroso fornecia energia e hidratação em jornadas longas. Suas propriedades medicinais — anti-inflamatórias, digestivas e cicatrizantes — já eram conhecidas e utilizadas pelos povos originários, especialmente por pajés e curandeiros. As sementes, folhas e até a casca da planta eram aproveitadas em infusões e preparados, ajudando no tratamento de males comuns entre caminhantes: dores, feridas, infecções e febres.
Não é improvável que árvores de bacupari tenham marcado pontos estratégicos do Peabiru — fontes de alimento, descanso e cura no meio da mata. Há relatos orais entre comunidades tradicionais da Mata Atlântica que associam certas frutíferas nativas, como o bacupari, ao “caminho dos antigos” e à presença de entidades protetoras da floresta.
Hoje, saborear um bacupari é mais do que desfrutar um fruto exótico: é tocar em um vestígio vivo do passado, de uma época em que a floresta era lar, estrada e templo para os povos indígenas. Preservar o bacupari e reconhecer seu valor cultural é também honrar essa memória ancestral e manter vivo o espírito do Peabiru — caminho de conexão, sabedoria e respeito à Terra.

Guinho Caiçara
via facebook

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