quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Pexe DOCE. Um Causo verídico na Terra Tamoia.

 


Já faz um bocado de tempo, mas essa história inusitada tem que se conta. Pra modi di perpetuá.
O Velho Lobo do Mar, nascido e criado pra bandas da Vila de Picinguawa, digo; Picinguaba, já, com uns bons anos no costado, veio pra modi di morá na cidade, aqui pras bandas da Estufa.

Certa feita, o velho pescadô cismo de fazê um Azul-marinho pra modi dos neto come. Foi todo animado pra cozinha, consertô o belo Sargo de Beiço que havia figado na Costeira da Ponta Grossa, e dispois pegô uns limão cravo no quintal, ranco do chão um punhado de coentro, retirou 04 dedos de banana Santomé do cacho, mas dexo o cacho ainda no pé pra modi di engordá, e foi prepará o famoso e supernutritivo prato da gastronomia Caiçara.
Vale lembrá que na dispensa já devidamente reservado tinha uns cuí de farinha da boa lá do Sertão do Ubatumirim. Farinha de verdade, com o porvilho pra dá a goma no pirão.
Dizem que foi o velho Mané Grande que trouxe do Sertão até a praia, dispois, emprestô uma canoa de voga do Antonio Maió e discarrego na Ilha dos Pescadô bem ao lado do Trapixe do velho Orestes Medeiros. Dispois boto o saco nas costa, e olha que o saco do homi era grande, e veio de pé até a Gurilandia Caiçara, digo; Estufa. Mas vamos vortá pro Azul-marinho.
O homi caprixo no tempero, boto um tiquinho de pimenta, pra fortalecer o sabor e mergulho os pedaços do pexe no cardo quente, deixou cozinhar no tempo certo pra modi di não derreter a carne.
Com sabedoria e destreza dos ancestrais, tirou só a casquinha por cima da banana, pra que assim o prato viesse a azulá. Tem segredo ai...
Nesse momento ascriança já tava quase toda aguada, e na mesa, tava todas ajeitada.
Criançada na mesa a espera do cardo suculento, aguardando com imensa ansiedade o Azul-marinho feito pelo vovô, e na primeira colherada, a grande surpresa.
O pexe tava doce. Docinho da silva.
Um dos menino olho pro lado, e todo entrigado foi falar pra mamãe.
Que de pronto falou: Num reclama nem faz desfeita pro Vô. Come e agradece.
Não foi fácil engolir o pexe doce.
Esse minino ainda ta vivo, aliás, bem vivo pra modi di contá a história do Azul-marinho doce pra bóis.
O Velho pescadô se confundil, e boto açúcar no lugar do sal. Quem manda os dois sê branco.
Óia que isso é verdade verdadeira.


Fonte : Charles Medeiros
via facebook

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