De vez em quando aparecia por ali um sujeito diferente… diziam que ele tinha um poder especial.
O homem chegava quieto, ajeitava balança, dava jeito em tudo. Mas o que deixava a gente de queixo caído era outra coisa: com só dois dedos ele dobrava prego grosso, daqueles de vinte e dois por quarenta e oito. Eu não acreditava, até que um dia resolvi testar. Entreguei um desses na mão dele, só pra ver a graça. Pois não é que, diante de mim, sem suar, sem fazer cara de esforço, o prego foi se vergando devagarinho, ponta com cabeça, como se fosse varinha de bambu? Olha, eu fiquei besta.
Mas o mais espantoso não foi isso não… Foi o que aconteceu lá na ponte do Perequê-Açu. Tava todo mundo parado, olhando um galo puxar uma viga de peroba, daquelas pesadas de verdade. O bicho ia e vinha, firme, como se arrastasse pena de passarinho. A multidão só faltava aplaudir.
Aí apareceu o Cristino, vindo do Perequê, com um cacho de banana no ombro. O que ele não sabia é que no meio do cacho vinha uma cobra dormindo enrolada. Quando viu o povo arregalado, perguntou o que tava acontecendo. O pessoal explicou: “É o galo, homem! Tá puxando uma viga de madeira!”
Cristino franziu a testa, olhou e falou alto:
— Vocês tão tudo cegos? Esse galo aí não tá puxando nada disso não! Só tá brincando com uma palha de esteira velha, bicando, arrastando pra cá e pra lá.
Na hora, como se um encanto tivesse quebrado, os olhos do povo clarearam. Sumiu a viga, ficou só a palha. Todo mundo se entreolhou, sem acreditar no que tinha acabado de ver.
E foi aí que a gente lembrou do que os antigos sempre diziam: cobra quebra feitiço. O dono do galo, aquele sim, tinha poder — fazia o povo enxergar o que não existia. Mas bastou a cobra dar as caras pra ilusão ir embora.
É, meu amigo… tem gente que carrega uma força que não se explica. Mas o mundo é assim: onde tem feitiço, sempre tem também o bicho certo pra desfazer.
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