Amigo é coisa pra se guardar...

Um dia adentrei o recinto de uma sala de aula lotada. Havia duas carteiras vazias, mas faltavam cadeiras. Como sempre no primeiro dia de aula do Curso Técnico de Contabilidade, eu cheguei atrasada. O professor explicava planilha de contas para uma turma do fundão da classe. Ressabiada, sob o olhar torto do professor, procurei um lugar para me instalar e não achei. Foi quando um rapaz de rosto sorridente ofereceu gentilmente seu lugar, e se propôs buscar outra cadeira para ele. Nascia ali uma amizade para sempre amém. Confesso que muitas vezes independente da minha vontade, mas por motivo de força maior, fui relapsa com essa amizade. Amizade essa que cresceu quando por seu intermédio fui aceita em sua família, em seu ciclo de amizades tão amplo e tão seleto intelectualmente, como uma irmã sua. Por ironia temos mesmo sobrenome Souza. Divergíamos e convergíamos com idéias e fatos cotidianos. Mas era notório o respeito mútuo por nossas escolhas pessoais. Não tive tempo de lhe dizer quão importante ele foi na minha vida de escrevedeira. Quanta força eu recebi ao vê-lo acreditar no meu trabalho. Ajuda essa que me deu o prêmio Washington de Oliveira, Concurso de Contos 1999. foi ele quem digitou e corrigiu meu pobre português, encaminhando meu trabalho para inscrição. Mas tive tempo de dizer quanto admirava seu trabalho de escritor. Sua alma de poeta. Sua postura como grande pai de família que era. Lembro-me que muitas vezes parávamos no meio da rua para contar causos novos e ríamos como dois bobos. Era uma pândega! Hoje amanheci mais pobre. Uma das minhas jóias viajou antes do combinado. Como solícito que era foi atender um pedido de Deus: ajudá-lo a reescrever a história de nossa cidade de Ubatuba que tanto ele conhecia. Espero que o criador que te recebeu em sua casa de braços abertos, possa consolar órfãos de sua companhia aqui na Terra. Que a luz divina seja sua companheira! Eduardo Antonio de Souza Netto, a sua benção! Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba. FONTE  :  FATIMA DE SOUZA   - Colonista do site www.ubaweb.com  Ubatuba 7 de dezembro de 2012 https://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=41580